“Quando sobreveio a mídia
eletrônica, em 1983, registrou-se uma sucessão letal de equívocos. Eles não
pertenciam ao ramo”. Esse é um dos diagnósticos do jornalista Arnaldo Niskier,
homem forte do grupo Bloch por 37 anos, contidos em Memórias de um sobrevivente: a verdadeira história da ascensão e queda
da Manchete, publicado pela Editora Nova Fronteira. O autor, que ocupa a cadeira de número 18 da Academia Brasileira
de Letras, lançou o livro nesta quinta-feira (22), no UniCEUB, em Brasília.
A obra retrata, com minúcias, como um império que chegou a
mais de sete mil funcionários e dava todos os indícios de promissor, (com revista
de circulação nacional, emissoras de rádio e TV) perderia tudo e teria, no início
dos anos 2000, um passivo financeiro e de imagem.
A revista, por exemplo, trazia
um estilo próprio, na segunda metade do século 20, principalmente na apresentação visual e na
linguagem. A editora Bloch honrava-se em anunciar que
era um jornalismo feito por brasileiros. O dia em que “as máquinas pararam” é
trazido por Niskier com riqueza de detalhes A publicação deixou de circular no
dia 31 de julho de 2000 e 2822 profissionais perderam os empregos. “Ponto final
de um capítulo glorioso do jornalismo brasileiro”, aponta Niskier. Foram 2520
edições. “Naquele (último) dia, 2822 profissionais perderam um pedaço de suas
vidas”. No mundo eletrônico, que teria sido um voo alto demais para o grupo, o
autor identifica que houve poucos sucessos, o que incluiu a telenovela Pantanal.
Lançamento em Brasília ocorreu no UniCEUB |
Na obra, o autor utiliza
documentos e a memória para traçar o panorama técnico da rede e, também, o psicológico
do fundador, Adolpho Bloch. Inclusive, a visão do antigo magnata da comunicação
é também retomada com um olhar privilegiado. “Acima de tudo, um realizador. Adolpho tinha
uma grande capacidade de premonição”, registra Niskier. De acordo com ele, o
perfil do dono do grupo fez com que tivesse grande aproximação com Juscelino
Kubitschek.
Além de homenagear os
profissionais que fizeram parte dessa incrível história de céu e inferno, a
obra faz com que, por um lado, aqueles que foram público dos veículos recordem
e revisitem esse passado recente, e por outro, os mais jovens podem conhecer
uma das trajetórias mais fulminantes da comunicação brasileira. Depois de 12
anos do final melancólico de Manchete, a obra de Niskier pode ser considerada
mais uma grande reportagem a partir da perspectiva desse autor que viveu tão
intensamente as redações dos veículos. Seja como for, o leitor poderá
reconhecer um legado, também para os tempos da internet, que não pode ficar
desconhecido porque as máquinas pararam.
A primeira edição (Imagem reproduzida)
A última edição (imagem reproduzida)
Por Luiz Claudio Ferreira e João Gomes (texto) e Jackson Sena (fotos) - Agência de Notícias UniCEUB