quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cena de crime vira “espetáculo” para curiosos na Asa Sul

 O que representa o corpo humano morto no meio da rua? Na noite da última terça-feira, dia 11, uma cena provocou a discussão entre os curiosos que passavam ao lado de um supermercado na área comercial da quadra 407, na Asa Sul, área nobre de Brasília. No asfalto, o corpo de Salvador da Silva Filho, de 56 anos, alvo de nove tiros. Segundo a polícia, o principal suspeito era o genro. O crime teria ocorrido após uma discussão. Segundo a perícia no local, pelo menos sete tiros foram na cabeça.
Quatro horas após o ocorrido, a perícia ainda mantinha o corpo no local do crime para o registro e coleta de indícios, como impressões digitais. O material será utilizado na investigação do caso. Durante todo esse tempo, dezenas de pessoas permaneceram em volta da área isolada por uma fita amarela.
A curiosidade alheia acompanhou a ação dos peritos, que despiram o corpo da vítima. Até os testículos do cadáver foram examinados. Tudo no meio da rua. Para que a cena do crime não fosse afetada, o corpo não pôde ser retirado dali até que o trabalho fosse concluído.
 “Depois que a gente morre, não vale mais nada”, disse uma senhora rompendo o silêncio. Logo a conversa ganhou adeptos. “Olha que situação mais deprimente, o cara todo estourado”, continuou um homem. “A gente vira mesmo um saco de carne”, completou outra senhora diante da obviedade da finitude.
Logo, moradores, motoristas curiosos e comerciantes locais fotografavam o corpo e especulavam sobre o crime. O “público” só aumentava. As pessoas se aproximavam e logo levavam a mão aos olhos, mas ninguém se atrevia a perder um só movimento de um dos peritos ao virar o corpo do homem para cima e revelar a poça de sangue formada pelos ferimentos. Ao ser atingido, Salvador teria caído de bruços.
Natureza - O psicólogo Daniel Alves explica que a grande comoção pode ser explicada pelo contexto do crime. “ A Asa Sul é uma área nobre da cidade. As pessoas não estão acostumadas com esse tipo de ocorrência. Além disso, o ser-humano é curioso. Esse tipo de reação é da nossa natureza”.
Alves lembra ainda que o sentimento de proximidade com o ocorrido ajuda a esquentar o debate entre os curiosos. “As pessoas começam a refletir: ‘poderia ser comigo, eu poderia ter sido atingido por uma bala perdida”, diz.
Fato é que a conclusão do debate sobre o valor da vida e o que um “corpo sem alma” representa não é consenso na sociedade brasileira. E isso aguça ainda mais as discussões e as reflexões do senso-comum. “Nessa horas as pessoas param, pensam sobre a rotina agitada e percebem uma realidade que estamos acostumados a mascarar: nosso corpo é uma estrutura óssea e, com a morte, ele passa a ser inanimado”, explica o especialista.

Por José Maurício Oliveira - Agência de Notícias UniCEUB

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