“Esta é uma crise dramática”, declarou, em Brasília, a
ambientalista Marina Silva, ao tratar de aspectos para a construção de um novo paradigma de desenvolvimento para o
século 21.
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Segundo a ambientalista, as crises das civilizações
antigas afetavam apenas a comunidade diretamente envolvida, o que não acontece
no mundo de hoje. “Com a globalização, a crise de um único país traz
consequências para o globo inteiro. Não há onde se esconder”, disse.
Em um congresso de ensino, pesquisa e extensão do Centro
Universitário de Brasília, a ex-ministra afirmou que esta é uma crise com
múltiplas facetas, econômica, política, ética, social e ambiental, sendo a
última a mais grave de todas. “A verdade é que o planeta já está ambientalmente
no vermelho em 50%”, disse ao apontar as mudanças climáticas como o elemento
mais sério do pacote de problemas. “Eu considero este o armagedon ambiental, o aumento
da temperatura causa a perda do equilíbrio necessário para a manutenção das
condições da vida”, declarou.
E para uma crise com aspectos variados, há uma
multiplicidade de respostas. Contudo, para Marina, uma coisa neste contesto é
invariável, o fato de que esse é um problema de todos. “É como na música dos
Titãs ‘Por todos ao mesmo tempo agora’”, explicou.
É a partir daí que, segundo ela, surge a necessidade da
criação de um novo paradigma de desenvolvimento, de criar-se um novo
referencial a ser seguido pelas gerações futuras. “Novas formas de produzir, de
consumir, de nos sentirmos felizes. Estamos em estado de emergência, algo
precisa ser feito”, afirmou.
Desenvolvimento Sustentável
O primeiro novo modelo proposto para
solucionar a crise ambiental sugeria parar o desenvolvimento em prol da
preservação. Mas esta, para a ambientalista, é uma proposta impossível. “Em um
mundo onde pessoas ainda vivem com menos de U$ 2 por dia, não se desenvolver é
algo impensável”, disse.
Surgiu assim a proposta de desenvolvimento sustentável,
de pensar-se uma maneira para o uso inteligente dos recursos naturais
necessários, assegurando que as futuras gerações também os terão.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pensa este desenvolvimento
em quatro dimensões: econômica, social, ambiental e cultural. Se uma sociedade
produz riqueza, mas não a reparte nem a transforma em bens e serviços, ela não
pode ser considerada desenvolvida. O mesmo acontece para sociedades que não
sabem administrar os recursos naturais ou são incapazes de preservar a
diversidade cultural. “Só é possível estabelecer troca na diferença, e sem
troca não há crescimento”, declarou.
Para a ex-ministra, o caminho rumo à sustentabilidade
passa inevitavelmente pela superação da ética de circunstância. Ela afirma que
não podemos levar em consideração apenas a conveniência de um dado momento sem
pensar as consequências de tais ações implicadas. “Do contrário nos firmamos na
riqueza pela riqueza, no sacrifício de recursos ambientais de milhares de anos
em troca de lucros de apenas uma década”, explicou.
Desadaptação Criativa
Na opinião da ambientalista, o grande desafio é o que ela
chama de “desadaptação criativa”, capacidade de se desprender de antigos
hábitos e abandonar saídas óbvias. “Se fazemos as mesmas perguntas, obtemos as
mesmas respostas. É preciso mudar a abordagem”, constatou.
Marina acredita que a quebra de paradigma é uma escolha
individual, uma pessoa pode decidir-se por viver segundo o paradigma vigente ou
abrir-se ao novo. “Os gregos queriam ser sábios e livres, os romanos queriam
ser grandes e fortes, os povos da Idade Média queriam ser santos. E nós, o que
queremos ser?”, indagou.
Por Sthael Samara - Agência de Notícias UniCEUB
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