sexta-feira, 12 de outubro de 2012

No dia das crianças, Feira dos importados patrocina festa com trabalho infantil

A Cooperativa da Feira dos Importados promoveu, no dia 12, uma festa em que pelo menos uma criança, de 10 anos de idade, trabalhou com a distribuição de pipoca e algodão doce. No Brasil, é proibido o trabalho dos menores de 14 anos, de acordo com a Constituição Brasileira.


A menina de 10 anos, que estava acompanhada da prima de 16, serviria, ao longo do feriado, mais de mil sacos com pipocas para o público. Segundo as duas, a garota trabalha todos os finais de semana em eventos com a tia, proprietária do negócio. Ela comentou que as jovens sempre trabalharam no negócio da família, desde os 10 anos, e que seria melhor vê-los trabalhando novos a “vê-los nas mãos da polícia”.         

Informados a respeito da situação, representantes da cooperativa explicaram que a responsabilidade seria da  empresa contratada.  “Se há alguma criança trabalhando é porque os pais não têm com quem deixar em casa”, disse Iolanda Lima, diretora administrativa da Cooperativa da Feira dos Importados.

De olho no cliente – Além da festa, as barracas da feira abrigaram neste 12 de outubro outros “trabalhadores” com idade inferior a 14 anos, conforme foi conferido pela equipe de reportagem da Agência de Notícias UniCEUB. Numa loja de eletrônicos, um menino de 12 anos, estudante da 6ª série do ensino fundamental, disse que ajuda os pais todos os finais de semana.  Morador da Asa Sul, ele diz que o expediente começa às 8h e segue até as 18h.

Ele usa o mesmo uniforme dos demais funcionários com o nome da loja estampada no peito.  “Esse trabalho sustenta minha casa  e minha vida. Isso vai me dar um futuro”. Quando não está trabalhando, Rafael gosta de jogos no computador e de acessar as redes sociais da internet. “Já ganhei  dinheiro da minha avó, mas do meu pai ainda estou esperando meu presente”, disse o menino enquanto olha o pai que está ocupado atendendo um cliente.

Em uma loja de brinquedos, outro menino de 12 anos diz trabalhar das 9h às 18h. A mãe, de 37 anos, comenta que a criança não é forçada a trabalhar e “apenas” a ajuda com as vendas. “Meu filho só vem trabalhar comigo quando eu preciso ou no final do ano. Ele não passa muito tempo aqui na loja”, garante. Um dos responsáveis pela  loja, que recebe mais de 200 compradores ao longo do dia,  admite que conta com a “ajuda” de crianças. O gerente do estabelecimento explica que leva o sobrinho para trabalhar “eventualmente”. “Ele vem comigo sempre que possível e ajuda a cuidar da mercadoria”.

Uma menina de 11 anos diz trabalhar em um estabelecimento da família na Feira dos Importados todos os dias, inclusive feriados. Ele relata que consegue conciliar a vida ''profissional" com os estudos (está na 6ª série). Ela diz gostar do local e que nos dias de folga, domingo e segunda, consegue colocar os estudos em dia.

“Igual a shopping” – A diretora administrativa da cooperativa da feira, Iolanda Lima, admite que o fato acontece, mas haveria uma justificativa.  “Se há alguma criança trabalhando, é porque os pais não têm com quem deixar em casa”, disse.

Segundo a diretora,  a cooperativa “não é responsável por qualquer  contratação irregular de trabalhadores”.  Ela explica que cada cooperativado é um microempresário, com CNPJ próprio, e portanto, teria independência. “Isso aqui é igual  um shopping,  o que acontece dentro de cada loja, restaurante, quiosque ou barraquinha é de responsabilidade do dono”, isenta-se.

Com reportagem de Daniel Ribeiro, Heron Andrade, Jessica Karla, Lucas Salomão, Paulo Stefanini e Raul Trindade   - Agência de Notícias UniCEUB

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